terça-feira, 27 de outubro de 2009


3 A REAL MOTIVAÇÃO DO PROFESSOR E O TRABALHO COLETIVO

As inúmeras dificuldades encontradas em sala de aula abrem caminhos para visualizar uma educação que trabalhe de forma cooperativa (MACEDO, 2005), onde os professores buscam uma formação coletiva (THURLER, 2002), visando à contribuição mútua e encontrando soluções práticas para o maior êxito da aprendizagem.
A sala de aula tem-se colocado frente aos professores como um desafio diário a ser enfrentado, embora, muitas vezes, saía-se vencido dela. Por isso, há de se pensar numa forma de multiplicar as “armas” a serem usadas com o objetivo de colaborar com o sucesso da educação.
Na área educacional, mais precisamente nas instituições escolares, os docentes têm se perguntado o real motivo pelo qual devem dar início ou continuidade ao seu trabalho em sala de aula. Para tanto, abordar-se-á os principais fatores que levam o professor a assumir a responsabilidade de formador de seres capazes de pensar, analisar, planejar e agir diante das mais diferentes situações que exijam habilidades e competências específicas. Para isso, deve-se, inicialmente, perguntar: o atuante da educação é professor ou está professor? Será que ele tem competência para tal? Será que esta é realmente a vocação deste profissional?
Esses questionamentos, de fato, devem fazer parte do cotidiano do profissional educador, principalmente em situações tensas, críticas, ou quando submetidos à forte pressão, para que, ao perceber-se como professor, assumindo essa missão diariamente, ele terá mais possibilidade de responder aos inúmeros desafios que lhe são apresentados.
Para um melhor entendimento dessas questões, partir-se-á do significado da palavra “motivação”, a qual é entendida como ato ou efeito de motivar. Mediante esta definição, observa-se que o comportamento humano é motivado pela busca, alcance ou conquista de algo que ainda não possui, tanto por uma questão de necessidade quanto por uma questão de vontade ou desejo interno.
A partir das observações postas, centralizar-se-á as reflexões nas principais motivações dos professores de um modo geral.
Sabe-se que ser professor, nos dias de hoje em especial, não é uma tarefa fácil por diversos fatores, como por exemplo, as péssimas condições de trabalho, os baixos salários, a desvalorização e o desrespeito à profissão, dentre outros, como bem salienta Catani (2003, p.25).
O professor, antes de o sê-lo, é um ser humano com desejos e vontades como qualquer outro, que busca motivação para sobreviver em meio a um mundo turbulento e cheio de armadilhas. As mudanças e transformações sociais, econômicas, políticas e culturais da sociedade afetam diretamente também o professor, que se vê numa situação de desconforto e busca sair dela como todo ser humano.
De acordo com Fontoura (p. 174 apud NOVOA, 2000) o professor é convidado a dar vida à escola e transformá-la, formando, assim, o aluno capaz de produzir e fazer uso do conhecimento, a participar da coletividade da sociedade, a criar, preparar, quebrar paradigmas e enfrentar constrangimentos com firmeza e maturidade. Dessa forma, se analisarmos os fatores motivadores que levam o professor a não desistir de sua profissão e assumi-la com total responsabilidade, veremos que todos os que realmente querem assumir essa grande missão são apaixonados pela profissão e pela importância do papel que tem na construção da sociedade, sabendo que serão responsáveis pela organização das idéias de seus alunos transformando-as em conhecimento.
Contudo, não basta que os professores se sintam motivados ao trabalho educacional. Faz-se necessário que ele encontre apoio por parte dos que estão ao seu lado para que assim possa vir a desempenhar sua tarefa com a convicção de que, não obstante tantas dificuldades, vale a pena doar-se cada vez mais.
Thurler (2002, p.97) diz que:

[...] É preciso multiplicar as relações de troca nas quais as partes interessadas poderão debater problemas percebidos, compartilhar suas inquietações e suas necessidades de forjar, mediante o confronto de pontos de vistas diversos, uma melhor visão dos verdadeiros problemas.


Troca: eis o ponto chave da questão.
Ao procurar alguns sinônimos para a palavra troca, encontra-se substituição, mudança, permutação, entre outros. Significa, pois que troca é sair de um estado para entrar em outro que deve ser totalmente diferente do inicial. Ou seja, a troca entre os professores tem a utilidade de colaborar para que nasçam novas idéias que possa vir a amenizar as dificuldades enfrentadas.
Quanta riqueza poderá ser vivenciada a partir da fala dos colegas, parceiros de profissão, sobre o que se tem feito em sua sala de aula, sobre o que se tem feito e tem dado certo e até mesmo o que se tem feito e não tem dado tão certo assim, afinal, também aprendemos muito com os erros.
Ao se verbalizar as inquietações há duas ações sendo trabalhadas: a partilha de experiências e o sistematizar o que se tem feito. Essas duas ações levam a uma reflexão conjunta onde se pode chegar a novas iniciativas: de um lado o tentar realizar com sua sala aquilo que o outro professor já fez e o colaborar com o professor na busca por novas tentativas que consigam ter êxito.
Um outro aspecto é que não se pode ver a escola apenas como local físico, reduzindo-a as paredes frias, a um local no qual apenas se desempenha um trabalho. É necessário visualizar esse “estabelecimento como sistema social complexo, lugar de trabalho, mas também de vida e de relações carregadas de emoção” (THURLER, 2002, p.106).
Ao se conseguir visualizar a escola como local carregado de relações, pode-se fazer uma passagem extremamente importante, pois se compreenderá que a escola é o lócus onde se constrói a própria história e, portanto, não é um lugar frio e distante, mas carregado de sentimentos e muito próximo. Criar-se-á uma relação propensa ao interesse de todos e, consequentemente, do interesse de cada um.
A sociedade já voltou o olhar para o trabalho em equipe; as empresas buscam funcionários que saibam trabalhar em grupo, isto porque não se pode mais conceber um trabalho individualista. Hoje o foco é a soma, a ajuda mútua, a troca. Porque não olhar a educação sob esse foco? Todos tem tanto a ganhar nessa nova perspectiva, então porque não desenvolver mais essa habilidade e incorpora-la no cotidiano da vida?
Thurler (2002) fala sobre a criação de “comunidades aprendizes”. Esta característica poderia muito bem definir o grupo de professores, já que estes devem estar em constante busca, abertos a aprender sempre mais.
Partindo desse ponto de vista, bem poderia que os professores pudessem ser conhecidos entre si e não meros colegas que chegam à escola, assinam o ponto, dão sua aula e vão embora despreocupadamente. Não! Um professor tem que ser muito mais que isso. Ele é a ponte que leva o aluno ao conhecimento e mais que isso, ele é a pessoa que caminha lado a lado com o aluno e o orienta na sua construção pessoal. Se assim não for, a educação não estará atingindo o cerne de sua missão.
De nada vale passar conteúdos; de nada vale dar uma boa aula se esta não atinge o âmago dos alunos, ou seja, se esta não tem o poder de tocar no mais profundo do aluno e fazê-lo refletir sobre a sociedade em que vive para que possa tomar parte dela e agir de forma crítica.
Ao se deixar para trás a concepção de grupo de professores e vivenciar a essência de uma comunidade de professores com certeza se poderá visualizar a educação atingindo seu objetivo central; somente quando os professores puderem entender que não podem caminhar sozinhos é que se poderá sonhar novamente.






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